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Natureza infantil?


Hoje entendemos a infância como uma fase do desenvolvimento humano, para tanto a compreendemos dentro de uma perspectiva biológica, psicológica e social. Tal conhecimento nos permite respeitar as condições que são inerentes a este período.

Contudo, a criança nem sempre teve seu espaço na família, na escola ou na sociedade. Na Idade Média os filhos eram cuidados por seus pais. Antes da sociedade industrial a infância estaria limitada a idade em que a criança necessitava dos cuidados para sua sobrevivência, logo que alcançasse o desenvolvimento físico gozaria do trabalho e outras atividades adultas, e dessa forma, através do convívio direto com os adultos, a criança aprenderia os costumes e valores.

A partir do século XVIII em função das necessidades da ordem capitalista, a família se reorganiza de forma diferente e se visualiza neste meio familiar a união e a intimidade. Assim, no fim do século XVII, a aprendizagem social que acontecia com os adultos da família passa a acontecer na escola, espaço qual a criança receberia uma sólida formação. Isso tudo aconteceu primeiramente com as famílias burguesas, pois a alta nobreza e o povo conservaram por algum tempo os padrões antigos.

Conhecer estes fatos históricos nos permite compreender como a ideia moderna de infância foi determinada pela organização social capitalista. No entanto, a criança que na sociedade medieval convivia com os adultos em todos os momentos, é afastada desse convívio, e passa a condição de mera consumidora de bens e ideias produzidas exclusivamente pelos adultos, é um ser à margem do processo de produção.

A criança, para seu desenvolvimento, necessita da mediação do adulto, mas independente de sua origem social ela passa por um processo de maturação biológica. Assim, a dependência da criança é um fato social e não natural.

Esta distinção entre natureza e condição infantil esclarece o uso ideológico de natureza infantil, falar do que é natural na criança supõe a igualdade de todas as crianças, a idealização de uma criança abstrata. No entanto, falar da condição de criança remete a consideração de uma criança concreta, socialmente determinada em um contexto de classes sociais antagônicas.

Escola e Criança

Na educação podem-se distinguir duas concepções de criança, uma tradicional e outra na nova. Na tradicional a ideia de criança é que ela se constituirá a partir do que ela foi educada, cabe a educação ensinar normas e conteúdos moralmente sadios que contrariem sua natureza selvagem. Vê a criança como um ser naturalmente bom e ingênuo que pode ser corrompido se não for protegido.

Por sua vez, a moderna acredita que a educação é equalizadora de oportunidades, a escola teria como função corrigir a marginalização e contribuir para a constituição de uma sociedade em que os membros não se importem com as diferenças, mas sim, aceitem e respeitem a individualidade. A ênfase na capacidade individual faz com que a pedagogia busque suporte teórico na Biologia e Psicologia. A psicologia sob forte pressão positivista reduz a realidade social ao seu componente psíquico.

Desta forma, a Psicologia e a Pedagogia acabam tratando a socialização da criança como um processo de integração dela à sociedade. E quem passa a se responsabilizar por ingressá-la ao meio social é a escola.

Ainda hoje a escola cumpre esse papel de socialização como fundamental, sem considerar que a criança já sofre um processo de socialização desde o ser nascer, da qual determina sua condição de ser social pela sua origem social de classe. Por afirmar o contrário, a escola está por assumir que a marginalidade seria uma incapacidade de adaptação do indivíduo as normas sociais, o que por fim, justifica a função da escola em promover tal adaptação. Se descartarmos essa ideia, entenderemos a partir de Charlot que “a socialização deve ser entendida como um processo evolutivo da condição social da criança”, deixando de ser o foco o como a criança se socializa, mas como a sociedade socializa a criança.

Assim, é importante considerar que todas as crianças passam por um período de crescimento, desenvolvimento, porém é preciso considerar que esse processo será diferente de acordo com sua condição social. Para isso, é necessário entender que o processo de desenvolvimento do indivíduo é determinado pela sua condição histórico-social.

A escola não está neutra frente a essas considerações. Ela muitas vezes acaba por atender as finalidades dos dominadores. Saviani conceitua a educação como mediadora, a escola constitui uma das mediações possíveis na efetivação do conflito entre as classes sociais.

A criança mesmo antes do nascer internaliza padrões de comportamentos, normas e valores decorrentes de sua condição social, isso se dá pela mediação do outro. Na escola, a criança através da mediação por novos veículos sociais passa a internalizar novos conteúdos. O que acontece nas escolas capitalistas é a imposição de uma cultura como legítima, negando quaisquer outras manifestações culturais.

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